segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O CORO DA DIREITA CONTRA OS DIREITOS HUMANOS

Como há tempos não se via no país, quase todos os setores conservadores da sociedade brasileira uniram-se no fim de dezembro e, de forma orquestrada, atacaram. O alvo foi o 3° Programa Nacional de Direitos Humanos, duramente criticado pelas Forças Armadas, empresários do agronegócio, setores da Igreja Católica e proprietários de meios de comunicação.

Lançado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, em 21 de dezembro, o texto é a terceira versão de um programa do governo federal para a área. O PNDH-I e o PNDH-II foram elaborados em 1996 e 2002, durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso.

A virulência das críticas ao programa que apareceram na imprensa comercial relembra o período ditatorial. Editoriais e artigos assinados acusaram o plano de querer revogar a Lei de Anistia, chamando os militantes que combateram a ditadura de revanchistas, e alertando para possíveis iniciativas “comunistas”.

Os principais ataques partiram dos militares, que, às vésperas do ano novo, por meio de seu porta-voz, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, criticaram o ponto do plano que instituía a Comissão Nacional da Verdade para apurar os crimes cometidos durante a ditadura civil-militar (1964-1985). Jobim ameaçou pedir demissão juntamente com os três comandantes das Forças Armadas, que disseram que a busca da verdade não pode significar “revanchismo”.

A principal causa da discórdia foi a existência do termo “repressão política”: os militares temiam que a expressão pudesse indicar uma investigação dos órgãos repressivos da época. Assim, pressionaram para substituir o termo para “conflito político”, dando margem para se ampliar a investigação também sobre os supostos crimes cometidos por militantes da esquerda. O ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, protestou, afirmando que colocar no mesmo patamar torturadores e torturados não é uma questão negociável. Declarou ainda que, se as vítimas da ditadura também passassem a ser alvo de investigação, ele pediria demissão.

Demais reações
Já a presidente da Confederação Nacional da Agricultura, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), afirmou que o programa discrimina o setor ruralista. O trecho do plano criticado é o que prevê a realização de audiências públicas antes que um juiz decida se concede liminar de reintegração de posse de uma fazenda ocupada. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, também atacou. Segundo ele, o decreto vai trazer instabilidade jurídica para o campo.

O documento ainda recebeu críticas de bispos da Igreja Católica, que reagiram a artigos que propõem ações para apoiar um “projeto de lei que descriminaliza o aborto”, “mecanismos para impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos”, a “união civil entre pessoas do mesmo sexo” e o “direito de adoção por casais homoafetivos”.

As entidades patronais de meios de comunicação também se manifestaram contra pontos do programa. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner) e a Associação Nacional dos Jornais (ANJ) divulgaram uma nota conjunta na qual afirmam que o texto do decreto do governo contém ameaças à liberdade de expressão. Nessa área, um dos objetivos do plano é regular os meios de comunicação para que mantenham uma linha editorial de acordo com os direitos humanos, com sanções para os que desrespeitarem as normas.

Curiosamente, parte desses pontos que foram criticados já constava nos dois programas anteriores, aprovados na gestão tucana de FHC. “Esse programa é uma continuidade natural dos outros, é coerente com os anteriores. É surpreendente que a crise mobilizada agora não tenha ocorrido durante o lançamento do segundo programa”, comenta a professora da faculdade de educação da USP, Maria Victória Benevides.

Ela questiona o fato das reações virem apenas no fim do ano, apesar do plano já estar disponível na internet há tempos. “Quando houve o lançamento do programa [em 21 de dezembro de 2009], os jornais também não deram muito destaque ao conteúdo. Só deram atenção para o novo visual da ministra Dilma Rousseff, o que me deixou impressionada”.

O que também foi pouco divulgado pela imprensa coorporativa é que a criação da Comissão da Verdade já havia sido recomendada durante a 11ª Conferência de Direitos Humanos, realizada em dezembro de 2008, em Brasília.

Recuo presidencial
Para acalmar os ânimos dos militares, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um novo decreto, em 13 de janeiro, que suprime o trecho que dizia que a Comissão da Verdade iria promover a apuração das “violações de direitos humanos praticadas no contexto da repressão política”. Assim, o leque de violadores dos direitos humanos ficou amplo, deixando “no ar” quem seriam os investigados.

A medida também prevê a criação de um grupo de trabalho para “elaborar anteprojeto que institua a Comissão Nacional da Verdade (...) para examinar as violações de direitos humanos praticadas no período fixado no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias da Constituição, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional”. Tal período proposto pelo decreto presidencial vai de 18 de setembro de 1946 a 5 de outubro de 1988, e não mais o que compreende a
ditadura civil militar, conforme o texto original.

Para entidades e defensores de direitos humanos, o novo decreto representa um grande recuo de Lula. “O presidente da República, seguindo seus hábitos consolidados, resolveu abafar as disputas e negociar um acordo. Esqueceu-se, porém, que nenhum acordo político decente pode ser feito à custa da dignidade da pessoa humana”, criticou Fábio Konder Comparato, professor emérito da Faculdade de Direito, em artigo publicado na página da internet da Caros Amigos.

O acordo foi “lamentável”, e faz parte de uma “tradição conciliatória da política brasileira”, acredita Maria Victoria. “Acho muito complicado tirar a expressão ‘repressão política’. Torturas, assassinatos e prisões ilegais são repressão política abusiva e criminosa”, critica. Além disso, opina, “não tem o menor cabimento jogar o início do período examinado para 1946”. Afinal, “o período da repressão política é de 64 a 85”, indigna-se.

Para Cecília Coimbra, vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, “o governo recua em nome de uma pseudogovernabilidade e abre mão de esclarecer o que ocorreu durante a ditadura. Essa supressão das expressões é muito séria, descontextualiza historicamente e tira a responsabilidade do Estado. Esse decreto é uma coisa escandalosa, vergonhosa”.

O que os setores militares vêm tentando fazer, com a ajuda da grande imprensa, é defender a tese de que “houve excesso dos dois lados”, tanto do regime autoritário como dos militantes de esquerda que pegaram em armas, o que justificaria um “vale-tudo”. “Com isso, tenta-se produzir a teoria dos dois demônios”, alerta Cecília.

Derrota
Também tem sido propalada a ideia de que os defensores da Comissão da Verdade e militantes de direitos humanos são revanchistas. “Seríamos revanchistas se estivéssemos reivindicando que quem torturou deva ser torturado, que quem matou deva
ser morto, que quem estuprou, vai ser estuprado. O que absolutamente não é o objetivo de ninguém”, ressalta Maria Victoria. “Eu sou favorável à responsabilização dos autores diretos desses crimes assim como de seus mandantes e responsáveis. Uma punição dentro da lei. Mas isso é com o Judiciário, não vai ser um programa do Executivo que será responsável por punição. O objetivo da Comissão tem que ser tornar público o resultado dessa investigação. Depois é com o Judiciário”.

Assim, a professora considera a mudança no texto do 3° Programa Nacional de Direitos Humanos uma derrota, “principalmente quando a gente vê que uma aliada natural da causa dos direitos humanos como a Igreja se somou de uma maneira bastante infeliz ao que existe de pior na direita”. No entanto, ela enfatiza que a derrota é de “batalha e não da guerra”.

Outra questão levantada pelos militares e divulgada com o apoio da imprensa corporativa é a de que, com a Comissão da Verdade, o ministro Paulo Vannuchi e as entidades de direitos humanos pretendem revogar a Lei de Anistia de 1979, que prevê, em seu primeiro artigo, “anistia a todos quantos (...) cometeram crimes políticos ou conexos com estes”. Apesar de ter sido publicado nos meios de comunicação que o programa pretendia revogar a lei, inclusive em manchete do jornal O Estado de S. Paulo, em nenhum momento o Programa Nacional de Direitos Humanos cita alguma intenção nesse sentido.

“Ninguém falou em revogação. A questão é colocar a lei nos trilhos porque ela foi deturpada, desviada para abranger o perdão para torturadores e assassinos que obviamente são culpados de crimes comuns, bárbaros. Nenhum país onde vigora o Estado de Direito pode deixar de considerar isso crime comum, principalmente os que estabeleceram Comissões da Verdade”, alerta Cecília.

Tatiana Merlino é jornalista.
tatianamerlino@carosamigos.com.br

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Machismo diz que beleza é fundamental!!

As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental". Era um poeta maravilhoso, esse Vinicius de Moraes, mas deixou imortalizada uma frase que jamais sairia da boca de uma mulher. Aos feios, as mulheres dão boas vindas, desde que por trás do olho que não é azul e do corpo que não é atlético haja bom humor, inteligência e sex appeal.

Nunca veremos Brad Pitt e George Clooney namorando feinhas, mas já vimos Julia Roberts casar com Lyle Lovatt, um músico que tinha o rosto decorados com crateras, e a estonteante Sharon Stone desfilar com baixinhos barrigudos até contrair matrimônio com um senhor que mais parece um boneco de cêra. Há quem defenda a ideia de que mulheres casam com qualquer um, desde que tenha poder ou dinheiro. Poucas. Não foi o caso de Julia Roberts nem o de Sharon Stone, ricas e poderosas por si só, e também não é o caso de muitas Lucias, Andreas, Cristinas, Danielas, Fernandas e Jussaras anônimas. Mulheres preferem ser amadas do que invejadas.

Essa história de beleza tem a ver com atração, que tem a ver com "a primeira impressão é a que fica", que tem a ver com inícios de relações. Se a garota for um canhão, as chances de conquistar um deus são quase zero (é uma generalização, toda regra tem exceções). Já se o garoto for feio, porém espirituoso, talentoso e auto-confiante, pode descolar o número do telefone da Marisa Monte. Lembrem-se que ela já namorou o Nando Reis, dos Titãs. Alguma coisa ele tem de lindo.

Mick Jagger é raquítico e branquela. Gerald Thomas é raquítico, branquela e usa óculos. Woody Allen é raquítico, branquela, usa óculos e está quase careca. Apesar desse quadro de horror, sei de muita mulher que não os expulsariam da sua cama. Será que elas nunca ouviram falar em Mel Gibson, Antonio Banderas, Pedro Bial? Elas nunca ouviram falar é que beleza garanta o conteúdo.

Mulher tem faro, não se contenta com a embalagem. É bem mais comum ver uma mulher linda
acompanhada de um homem aparentemente sem graça do que o contrário. Não é (só) porque a
concorrência é implacável e nos contentamos com o que sobra. É porque mulher tem raio-x: consegue olhar o que se esconde lá dentro. Se além de um belo coração e um cérebro em atividade ele ainda for apetecível, é lucro. Pena que a recíproca raramente seja verdadeira. Economizaríamos fortunas em cabeleireiros e academias se os homens fossem direto ao que interessa, na alma e no espírito, para os quais não adianta maquiagem

Matha Medeiros

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Será?

Talvez não seja do jeito que você imagina.
Tudo pode acontecer quando não sabemos o que esperar, não é verdade?
O que quer dizer que, as coisas nem sempre são do jeito que parecem ser, tudo tem dois lados, até mesmo aquilo que conhecemos há muito tempo pode apresentar outra face, inclusive nós mesmos.
Somos muito mais do imaginamos, e ultrapassamos os próprios limites quando necessário.
Na vida, temos dois caminhos bem fáceis de serem seguidos: Aquele em que vivemos em busca de conseguir acumular bens materiais; E aquele em que vivemos em função do bem comunitário.
Tudo é uma questão de escolha.
Escolhemos ter consciência social, ou escolhemos escolher apenas nós.
Quando nos colocamos no centro de nossa atenção, ficamos sem tempo, paciência e vontade de prestar atenção no próximo.
Chances existem para todos, inclusive a chance de ser útil.
Cabe a você escolher a prioridade de sua existência.


OS.: Mas não se preocupe, sempre terá chances a sua frente, basta que olhe para frente ao invés de olhar para os lados.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Seja o que Deus quiser

Está chegando mais um fim de ano. Faz-se em minha mente um retrospecto do ano inteiro onde tento colocar numa balança tudo o que foi bom e tudo que não foi tão bom assim. É difícil ter um balanço final, e saber se foi um ano mais produtivo, ou mais improdutivo.
Quando digo que é difícil ter esse resultado, é porque tudo o que acontece de ruim sempre pesa mais, é o que sempre lembramos, é o que sempre volta a nos atormentar quando ficamos diante de uma situação parecida com aquela em que fomos infelizes, torna-se um trauma. Já as coisas boas passam um tanto despercebidas, nós não nos apegamos a elas, é como se o normal fosse que só as coisas boas acontecessem. Se em alguma ocasião eu fui muito feliz, e no minuto seguinte aconteceu algo que me chateou muito, o que marcará essa passagem pra mim será o único minuto em que fui infeliz. Pode parecer estupidez, mas geralmente pensamos dessa forma e não sei o por quê, talvez existam milhares de motivos, porém nada justifica não termos fé e não levarmos conosco somente o que foi bom. Se conseguirmos fazer tal separação e eliminação de tudo aquilo que não nos agradou, seremos muito mais felizes.
Não podemos achar que é obrigação de Deus, ou de uma força superior, que só coisas boas aconteçam e quando alguma outra sair do planejado, ficarmos nos torturando e lamuriando o resto do ano. Cada um é responsável por seus atos e nada é por acaso.
Então, no fechamento dessa balança, procuremos buscar lembrar cada acontecimento agradável, cada amigo novo que fizemos, cada sorriso que demos, cada abraço que ganhamos e todas as risadas dadas junto daqueles que amamos. Afinal, estamos saudáveis e temos nossa família sempre por perto, e os amigos são a família que podemos escolher.
Que Deus abençoe a todos!

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Sabe Doar?


Você já fez alguma doação? Seja ela material, sentimental, espiritual? Então vou lhes dizer o que penso a respeito.

Não só acredito como sou uma apologista do termo “é doande se recebe”. Claro que é um doar movido pela como qupaixão, doar simplesmente por doar. E não o doar praticado por algumas pessoas, do tipo dar com uma mão e esticar a outra.
Entretanto, quando dizemos que doamos sem nunca esperar nada em troca, é como que querer criar uma ilusão, de maneira que promovemos e cultivamos um falso sentimento de bem estar, de caridade, como se o dever estivesse cumprido. Sustento minha posição com base na decepção. Se realmente doamos despretensiosamente, por que nos decepcionamos?
Para me aprofundar e entender o que é decepção busquei no dicionário um auxílio e encontrei: Decepção - Malogro de uma esperança; desilusão; desengano. O primeiro significado traduz bem onde quero chegar.
A palavra Malogro recai com o sentido de algo que não existe mais, neste caso a esperança. Por conseguinte, esperança é o ESPERAR.
Então afirmo de novo que, não só as minhas reflexões,mas as de muitas pessoas têm um “Q” de egoísmo. Se praticássemos a caridade (doação) como realmente é entedia, da maneira como nos é professada, não haveria motivo para se ter frustração, desilusão ou decepção. Não existe outro culpado por estes sentimentos que não nós mesmos.
Prestem bem atenção, se nos decepcionamos é porque temos a certeza de que fizemos algo em benefício de alguém, ou alguma coisa, ou alguma causa. Quando somos correspondidos fora dessa sintonia, de maneira contrária ou de um modo que não se aproxima das nossas expectativas, já nos sentimos descontentes e frustrados. É decepção na certa! E convenhamos que não há como se decepcionar por algo/alguém a que/quem não nos dedicamos nem devotamos algum crédito, não é verdade? Pois então, não tem jeito, é essa parada mesmo!
Estava refletindo sobre tudo isso e, ao mesmo tempo em que me confundi mais eu também captei umas coisas que passam despercebidas no cotidiano. Exemplo, repetindo o que acabei de dizer, a gente sempre se decepciona quando temos a certeza que foi feito algo de nossa parte em função do outro, que houve certo sacrifício nosso para o bem alheio. Em seguida, esperamos um mínimo de consideração da parte de lá, concorda? Até aí tudo numa boa. É super normal, porém, aquele por quem nós, supostamente, nos sacrificamos não reflete exatamente as nossas ações, não é nosso espelho, ninguém é igual a ninguém, cada um pensa de uma forma. Agora, você já atentou para o fato de que algumas vezes, ou pelo menos uma única vez, recebemos um gesto, uma palavra, algo que nos conforte quando a gente menos esperava e de quem a gente menos esperava? E pior, quando mais precisávamos? Pois é, aí eu acredito que houvera, em outrora, uma doação nossa. Doação em seu sentido real, literal, exato e cristão. Fora um ato tão despretensioso que não registramos como sacrifício e por esta causa até esquecemos.
Partindo do princípio que a lei do universo é “toda ação gera uma reação” e a lei cristã que é doando que se recebe, somos capazes de doar sim, apenas nos apegamos e nos direcionamos por aquilo/quem nos convém. Possivelmente, na maioria das vezes, “fazemos” para um e “recebemos” de outro.
Essa roda viva em que vivemos não nos permite esperar nada de ninguém, o que ela nos obriga com muita sutileza (ou não), é apenas doar, amar, sorrir, ajudar e esperançar sem se importar se será recíproco ou não. Apenas seguir distribuindo sem fechar nenhuma porta, nunca sabemos de qual lugar poderá surgir um abraço, uma mão, uma palavra ou apenas um sonho em comum.

Paradigma X Paradoxo


Sempre analisamos a vida, idealizando e acreditando em determinadas coisas movidos por sentimentos, criações, religiões, ideologias, crenças ou qualquer outro que for, no entanto “essa vida” nos faz divergir constantemente (quase diariamente) de nossas próprias idéias e crenças, talvez por isso seja tão fantástica e extraordinária. Nós entramos em conflito com o nosso existir como se fosse (pra mim já é) normal.
Acredito que este seja o propósito da vida, nós precisamos de guerra, não há graça em viver em paz, nem comigo nem com ninguém. Necessitamos de guerra no nosso interior.

No que se trata da minha citação “Necessitamos de guerra no nosso interior”, é claro que não foi uma comparação literal a guerra, no sentido de luta armada, canhão, pistolas, sangue e carnificina. Fiz apenas uma alusão a guerra no sentido de conflito, discordância, divergência.

Necessito de guerra, necessito estar em movimento, necessito discordar, divergir. Necessito contrariar, nem que seja a mim mesma, e daí? Enquanto puder e for capaz vou contrariar mesmo, principalmente quando possuir argumentos e fatos a meu favor, e se não os possuir que se dane. Lógico que concordarei como já o fiz muitas vezes. Abaixarei a cabeça sim, não sou a dona da verdade, nem prepotente a ponte de querer dar sempre a última palavra.
Por tanto, pode ter a certeza que decretarei guerra sempre que possível. Hei de endurecer, mas sem perder a ternura, como alguém já disse. Não quero ter uma única opinião, não quero ser só a favor, nem ter uma só palavra.
O que quero é ter várias opiniões, ser a favor e contra, ter uma ou dez palavras.
Quero correr lentamente e caminhar veloz.
Quero gostar, desgostar e voltar a gostar sem nenhum arrependimento.
Quero tomar sorvete e café juntos, ao mesmo tempo ouvir música, ver TV e ler.
Quero assoviar e chupar cana.
Quero ser uma santa inconseqüente e uma delinqüente canonizada.
Quero ser como um bambu, duro de ser partir e flexível para curvar-se ao chão.
Quero pegar sem pedir e doar sem saber, sorrir sofrendo e amar odiando.
Pode ser que me achem uma louca e “estranha”, mas é isso, nada de mais nem de menos, nem muito nem pouco, muito menos na média.
Quero iniciar do meio, ir para o final e terminar no começo.
Quero gostar de Chico Buarque e Racionais com a mesma intensidade, ser uma normal descomunal.
Só desejo ser facilmente compreendida e dificilmente interpretada.
Não sei se entenderam, ou se disse muita besteira, mas usei tudo que me veio a mente para lhes transmitir a minha concepção de guerra.
Finalizando, eu não quero ser um “paradigma” e sim um “paradoxo” e talvez assim eu encontre uma maior serenidade dentro de mim.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Ser Mulher... como conviver com isso?



“ ...a mulher tem uma força e um poder tão grande que ela própria desconhece...”

“...a mulher é o símbolo universal da vida. Ela gera a continuidade da nossa existência...”

“...a mulher é a mãe, é a irmã, é a avó e a filha, tem que ser respeitada e adorada por toda a sua história de lutas e conquistas pelo seu espaço...”

“...eu adoro as mulheres!”

Normalmente essas frases acima e outras do tipo, que ressaltam e elevam as supostas infinitas qualidades da figura feminina, foram e são ditas por homens. Estes, quando abordados por temas relacionados a mulher, fazem belíssimos discursos, não vou dizer feminista, porque para ser feminista convicto só sendo mulher e sentindo na pele. Mas eles enumeram e afirmam, algumas vezes bem poeticamente, todo o nosso poderio, desenterram histórias e mais histórias, gesticulam e dramatizam. Geralmente os que praticam essa adoração explícita, esses que se dizem apaixonados pelo nosso universo, são filhos de mães guerreiras, claro que não é uma unanimidade, existem os que simplesmente têm essa visão. Mas a maioria assistiu de perto a luta de suas genitoras para dar-lhes uma vida, no mínimo, suportável. Algumas solteiras, separadas, viúvas ou maltratadas pelos maridos, outras apenas de vida difícil como milhares espalhadas pelo mundo, que fazem das tripas coração pelos filhos e pelos filhos dos filhos, e alguns deles, graças a Deus, se sensibilizaram e tornaram-se então, disseminadores dessa idéia.
Longe de mim, reclamar dos nossos simpatizantes, afinal, eles nos colocam no centro de qualquer ideal, não se furtam elogios, nem se intimidam quando dizem ter seu lado feminino bem aflorado – claro que na medida certa, não me interpretem mal – mostrando sensibilidade e compreensão, abrem seus corações e realmente transmitem sinceridade no falar.
É fato que a maioria das representantes do sexo feminino, quando presenciam uma quase palestra dos tais defensores, ou até mesmo numa conversa informal, que foi o meu caso, se sentem apoiadas. Acreditam que há esperança de um dia conquistarem a igualdade merecida. Não tem como negar que é uma injeção de estímulo para nunca desistirmos dos nossos ideais, do nosso trabalho, da nossa família, dos nossos sonhos, enfim, de tudo aquilo que almejamos, pois aos olhos deles, somos mais que capazes de realizá-los.
Quando dei continuidade no debate, entre argumentos e considerações, entramos, eu e um colega, no contexto atual, no quadro em que hoje se encontra a mulher brasileira. É evidente que esse quadro alterou muito ao longo dos anos, e é claro que não estamos no mesmo patamar que os homens, infelizmente ainda somos mão-de-obra barata, ainda somos em maioria, donas-de-casa, faxineiras e secretárias. E é notável o aumento demasiado da vulgaridade feminina, mas também percebe-se na atualidade, um bom aumento de mulheres bem sucedidas, aquelas que conquistaram seu lugar e estão batendo de frente com o sexo oposto.
Logo entramos em outra realidade, paralela e controvérsia, que de meu colega partiu como uma crítica sutil. Acontece que a mulher moderna valoriza demais a sua independência em detrimento de outros valores. Valores estes que são exatamente a principal causa da adoração masculina; que é a mulher como figura de mãe, e quanto mais sofrida, mais comovente. Ele argumentou que na busca desenfreada pela independência, nós estamos abrindo mão da maternidade, do casamento entre outras coisas sagradas. Se por acaso temos filhos, os colocamos em creches, escolas e cursos de todos os tipos muito cedo, por trabalharmos demais não sobram tempo para as crianças, assim deixamos de passar valores essenciais para criação e educação, coisas que só em casa se aprende e só a mãe ensina (pra variar), inclusive que estamos nos tornando menos carinhosas e atenciosas, ficando mais frias e insensíveis.
Por mais que muitas super-mulheres consigam conciliar tudo e ser eficiente em todos os âmbitos, é realmente difícil assobiar e chupar cana. A gente tenta, mas não dá para abraçar o mundo. Não nego que podemos falhar, mas como cobertor pequeno, se cobrirmos uma parte, outra ficará descoberta, cabe priorizar a parte mais importante.
Somos cobradas sempre e por todos, até pela nossa própria consciência, pois, é lógico que queremos ascensão social e política, queremos ser vistas além do rostinho bonito, ou do corpo escultural, somos mais, muito mais e queremos mostrar e também sabemos que isso exigirá muito esforço e tempo, todavia desejamos experimentar a maternidade, desejamos gerar uma vida, sermos chamadas de mãe e – ironicamente – padecer no paraíso. Não tem jeito, algumas preferem escolher um sonho e entrar de cabeça, outras se arriscam em vários, porém de qualquer maneira ficamos entre a cruz e a espada.
Isso sem falar que somos alvos constantes, pra não dizer principal, do capitalismo, onde a exigência de padronização estética nos pressiona diariamente e, algumas de nós, para tentarmos nos enquadrar nesse modelo estereotipado, cometemos absurdos e submetemos o próprio corpo à atrocidades. Fazemos tudo em prol da aceitação social. Ser diferente e ter personalidade não são mais tão importantes. Agora, é super bem vista aquela que consegue contar, com maestria, todas as calorias de qualquer alimento e ainda assim passar fome, ou a que se mata em academias diariamente e tem pelo menos quatro cirurgias plásticas na ficha.
Sem fugir do assunto e sem menosprezar o apoio dos homens que estão do nosso lado tentando nos amparar, pois eu sei que o fazem de coração, vale questionar se não é aí que está o problema. Talvez por nos colocarem sempre no foco principal, usando como subterfúgio o fato de sermos mulheres e tudo o que representamos desde os primórdios, nós nunca seremos iguais, ou pelo menos torna tudo bem mais complicado. Para o homem é fácil ou cômodo, basta colocar a mulher num pedestal, com todos os louvores e glórias, e deixá-la lá. Ele continua sua vida habitual com outros do gênero cá em baixo, de vez em quando se lembra de elogiá-la, comprar-lhe um presente, ou permitir que assuma um cargo, mas nunca tira lá de cima e a introduz no seu meio e nem se interessa em entrar e compartilhar seu mundo, o qual se percebe que é bem “abrangente”.
A nossa parte estamos buscando fazer (pelo menos algumas) para derrubar a barreira do preconceito. Aos poucos vamos quebrando paradigmas, indo muitas vezes contra religiões e crenças, sendo rotuladas e censuradas todo o tempo. Confesso que não sei onde e como termina, e se termina essa nossa trajetória, mas sei que já estamos sendo preparadas desde novas para mudanças, algumas até radicais. Quando me refiro a mudanças, é realmente mudar, tanto valores, quanto posturas e posicionamentos. Resta saber se os homens estão preparados, quer dizer, se o mundo está preparado.
A certeza que tenho é que o quadro que estamos vivendo é passageiro, estamos em transição e muita coisa vai acontecer, sendo assim, vou tratar logo de providenciar meu lugarzinho na sombra, buscando meus objetivos, pelo menos os possíveis.
E quanto a você?
O que acha?