quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Ser Mulher... como conviver com isso?



“ ...a mulher tem uma força e um poder tão grande que ela própria desconhece...”

“...a mulher é o símbolo universal da vida. Ela gera a continuidade da nossa existência...”

“...a mulher é a mãe, é a irmã, é a avó e a filha, tem que ser respeitada e adorada por toda a sua história de lutas e conquistas pelo seu espaço...”

“...eu adoro as mulheres!”

Normalmente essas frases acima e outras do tipo, que ressaltam e elevam as supostas infinitas qualidades da figura feminina, foram e são ditas por homens. Estes, quando abordados por temas relacionados a mulher, fazem belíssimos discursos, não vou dizer feminista, porque para ser feminista convicto só sendo mulher e sentindo na pele. Mas eles enumeram e afirmam, algumas vezes bem poeticamente, todo o nosso poderio, desenterram histórias e mais histórias, gesticulam e dramatizam. Geralmente os que praticam essa adoração explícita, esses que se dizem apaixonados pelo nosso universo, são filhos de mães guerreiras, claro que não é uma unanimidade, existem os que simplesmente têm essa visão. Mas a maioria assistiu de perto a luta de suas genitoras para dar-lhes uma vida, no mínimo, suportável. Algumas solteiras, separadas, viúvas ou maltratadas pelos maridos, outras apenas de vida difícil como milhares espalhadas pelo mundo, que fazem das tripas coração pelos filhos e pelos filhos dos filhos, e alguns deles, graças a Deus, se sensibilizaram e tornaram-se então, disseminadores dessa idéia.
Longe de mim, reclamar dos nossos simpatizantes, afinal, eles nos colocam no centro de qualquer ideal, não se furtam elogios, nem se intimidam quando dizem ter seu lado feminino bem aflorado – claro que na medida certa, não me interpretem mal – mostrando sensibilidade e compreensão, abrem seus corações e realmente transmitem sinceridade no falar.
É fato que a maioria das representantes do sexo feminino, quando presenciam uma quase palestra dos tais defensores, ou até mesmo numa conversa informal, que foi o meu caso, se sentem apoiadas. Acreditam que há esperança de um dia conquistarem a igualdade merecida. Não tem como negar que é uma injeção de estímulo para nunca desistirmos dos nossos ideais, do nosso trabalho, da nossa família, dos nossos sonhos, enfim, de tudo aquilo que almejamos, pois aos olhos deles, somos mais que capazes de realizá-los.
Quando dei continuidade no debate, entre argumentos e considerações, entramos, eu e um colega, no contexto atual, no quadro em que hoje se encontra a mulher brasileira. É evidente que esse quadro alterou muito ao longo dos anos, e é claro que não estamos no mesmo patamar que os homens, infelizmente ainda somos mão-de-obra barata, ainda somos em maioria, donas-de-casa, faxineiras e secretárias. E é notável o aumento demasiado da vulgaridade feminina, mas também percebe-se na atualidade, um bom aumento de mulheres bem sucedidas, aquelas que conquistaram seu lugar e estão batendo de frente com o sexo oposto.
Logo entramos em outra realidade, paralela e controvérsia, que de meu colega partiu como uma crítica sutil. Acontece que a mulher moderna valoriza demais a sua independência em detrimento de outros valores. Valores estes que são exatamente a principal causa da adoração masculina; que é a mulher como figura de mãe, e quanto mais sofrida, mais comovente. Ele argumentou que na busca desenfreada pela independência, nós estamos abrindo mão da maternidade, do casamento entre outras coisas sagradas. Se por acaso temos filhos, os colocamos em creches, escolas e cursos de todos os tipos muito cedo, por trabalharmos demais não sobram tempo para as crianças, assim deixamos de passar valores essenciais para criação e educação, coisas que só em casa se aprende e só a mãe ensina (pra variar), inclusive que estamos nos tornando menos carinhosas e atenciosas, ficando mais frias e insensíveis.
Por mais que muitas super-mulheres consigam conciliar tudo e ser eficiente em todos os âmbitos, é realmente difícil assobiar e chupar cana. A gente tenta, mas não dá para abraçar o mundo. Não nego que podemos falhar, mas como cobertor pequeno, se cobrirmos uma parte, outra ficará descoberta, cabe priorizar a parte mais importante.
Somos cobradas sempre e por todos, até pela nossa própria consciência, pois, é lógico que queremos ascensão social e política, queremos ser vistas além do rostinho bonito, ou do corpo escultural, somos mais, muito mais e queremos mostrar e também sabemos que isso exigirá muito esforço e tempo, todavia desejamos experimentar a maternidade, desejamos gerar uma vida, sermos chamadas de mãe e – ironicamente – padecer no paraíso. Não tem jeito, algumas preferem escolher um sonho e entrar de cabeça, outras se arriscam em vários, porém de qualquer maneira ficamos entre a cruz e a espada.
Isso sem falar que somos alvos constantes, pra não dizer principal, do capitalismo, onde a exigência de padronização estética nos pressiona diariamente e, algumas de nós, para tentarmos nos enquadrar nesse modelo estereotipado, cometemos absurdos e submetemos o próprio corpo à atrocidades. Fazemos tudo em prol da aceitação social. Ser diferente e ter personalidade não são mais tão importantes. Agora, é super bem vista aquela que consegue contar, com maestria, todas as calorias de qualquer alimento e ainda assim passar fome, ou a que se mata em academias diariamente e tem pelo menos quatro cirurgias plásticas na ficha.
Sem fugir do assunto e sem menosprezar o apoio dos homens que estão do nosso lado tentando nos amparar, pois eu sei que o fazem de coração, vale questionar se não é aí que está o problema. Talvez por nos colocarem sempre no foco principal, usando como subterfúgio o fato de sermos mulheres e tudo o que representamos desde os primórdios, nós nunca seremos iguais, ou pelo menos torna tudo bem mais complicado. Para o homem é fácil ou cômodo, basta colocar a mulher num pedestal, com todos os louvores e glórias, e deixá-la lá. Ele continua sua vida habitual com outros do gênero cá em baixo, de vez em quando se lembra de elogiá-la, comprar-lhe um presente, ou permitir que assuma um cargo, mas nunca tira lá de cima e a introduz no seu meio e nem se interessa em entrar e compartilhar seu mundo, o qual se percebe que é bem “abrangente”.
A nossa parte estamos buscando fazer (pelo menos algumas) para derrubar a barreira do preconceito. Aos poucos vamos quebrando paradigmas, indo muitas vezes contra religiões e crenças, sendo rotuladas e censuradas todo o tempo. Confesso que não sei onde e como termina, e se termina essa nossa trajetória, mas sei que já estamos sendo preparadas desde novas para mudanças, algumas até radicais. Quando me refiro a mudanças, é realmente mudar, tanto valores, quanto posturas e posicionamentos. Resta saber se os homens estão preparados, quer dizer, se o mundo está preparado.
A certeza que tenho é que o quadro que estamos vivendo é passageiro, estamos em transição e muita coisa vai acontecer, sendo assim, vou tratar logo de providenciar meu lugarzinho na sombra, buscando meus objetivos, pelo menos os possíveis.
E quanto a você?
O que acha?

Nenhum comentário: